Cognatos, calques e amigos falsos

>> 20081222

Sem dúvida, ninguém não sugeriria que o tétum, o português, o indonésio, e o inglês fossem línguas mutualmente inteligíveis. Entanto, as quatro línguas compartilham muitas palavras, que criam pontes entre elas, e facilitam a aprendizagem delas.

Não estou a falar simplesmente acerca dos empréstimos portugueses em tétum ou indonésio, que entraram naquelas línguas há quatro séculos, mas sim dos neologismos que entraram em tétum na década passada. Embora haja alguns que dizem que estas novas palavras são incompreensíveis aos timorenses que não falam português, a realidade é que a maioria esmagadora destas palavras são na verdade compreensíveis a falantes de outras línguas, como o inglês ou o indonésio.



Porque? Porque são o que se chama na linguística 'cognatos' - palavras que são semelhantes aos seus equivalentes numa outra língua. Embora o inglês seja uma língua germânica, muito do seu vocabulário moderno é da origem latina ou grega (via o francês normão) e por isso, muitas palavras são semelhantes aos seus equivalentes em português, espanhol, e outras línguas europeias, por exemplo: president/ presidente, democracy/democracia, delegation/delegação, perspective/perspectiva, campaign/campainha, information/informação, problem/problema, system/sistema, participate/participar, strategy/estrategia, plan/plano, social/social, politics/política, economy/economia, crisis/crise, theory/teoria, fact/fa(c)to.

Infelizmente, há alguns que são tão lusófobos, acham que o português é uma língua tão incompreensível aos falantes de outras línguas europeias como o basco, o húngaro, ou o finlandês, que não são mesmo línguas indo-europeias!

Obviamente, há muitas palavras também que parecem semelhantes, mas que têm significados completamente diferentes, que se chamam 'amigos falsos'. Por exemplo, se um falante de português dissesse "I pretend to realise my actual compromises" em inglês", seria muito estranho a um falante de inglês, que acharia que dissesse que "finjo perceber os meus verdadeiros meio-termos". É um problema para falantes de português é espanhol também, por exemplo, os estudantes timorenses que estudam na Cuba teriam aprendido em breve embarazada em espanhol significa "grávida" em português, não embaraçada.

Há alguns que criticaram o uso de empréstimos portugueses em tétum, entanto, ignoram que são muito semelhantes aos empréstimos ingleses (ou holandeses) em indonésio, porque são cognatos, como prezidente/presiden demokrasia/demokrasi, delegasaun/delegasi, perspektiva/perspektif, kampaiña/kampanye, informasaun/informasi, problema/problem, sistema/sistem, partisipasaun/partisipasi, estratejia/strategi, planu/plan, sosiál/sosial, polítika/politik, ekonomia/ekonomi, krize/krisis, teoria/teori, faktu/fakta. A palavra indonésia aktualitas tem o mesmo significado como atualidade em tétum, mas não actuality em inglês, porque vem do holandês actualiteit.

Numa entrevista recente, o embaixador indonésio em Lisboa, Francisco Lopes da Cruz, mencionou que 80 por cento das palavras indonésias com o sufixo '-si' são semelhantes aos seus equivalentes em português, que têm o sufixo '-ção', por exemplo, redaksi (do holandês redactie) que é como reda(c)ção em português (ou redasaun em tétum). Com certeza, há exepções óbvias, como nasi, que significa arroz não nação!

Entanto, não estou a sugerir que o desenvolvimento do tétum apenas seja acerca de emprestar e transliterar palavras do portugês ou qualquer outra língua. Ao contrário, há muito lusismos no vocabulário oficial do Instituto Nacional de Linguística que na verdade não são necessários. É possível para usar equivalentes do tétum mesmo, como dalan besi em vez de kamiñudeferru, knaar ba uma em vez de deverdekaza, hariis-fatin em vez de kazadebañu. Ironicamente, muito destes 'lusismos' são na verdade 'calques', ou empréstimos traduzidos , como lua de mel que vem do inglês 'honeymoon', ou arranha-céus que vem de 'skyscraper'. O indonésio usa bulan madu para significar lua de mel e pencakar langit para significar 'arranha-céus', portanto da mesma maneira talvez o tétum possa usar fulan bani-been e maksukit lalehan.

Embora a maioria de palavras em inglês sejam da origem latina ou grega, a maioria esmagadora das palavras que são mais usadas são anglo-saxónicas, que são semelhantes aos seus equivalentes noutras línguas germânicas. Por exemplo, faça uma comparação do frase "a maioria das palavras que usamos cada dia em inglês são anglo-saxónicas" em inglês, alemão e dinamarquês:

Most of the words that we use every day in English are Anglo-Saxon
Die meisten dieser Wörter, die wir täglich gebrauchen, in englischer Sprache sind Angelsächsische.
De fleste af de ord, vi bruger hver dag i engelsk er angelsaksiske

Da mesma maneira, podemos dizer em tétum que "liafuan barakliu ne'ebé ita uza iha tetun liafuan hosi lia-tetun rasik" - "a maioria das palavras que usamos cada dia em tétum são da língua tétum mesma."

Entanto, há lusismos que têm sido usados em tétum e em indonésio por séculos, como Natal.

Feliz Natal para todos. Natal Kmanek ba ema hotu. Selamat Hari Natal untuk semua.

3 comentários:

Margarida Azevedo segunda-feira, 22 de dezembro de 2008 às 22:57:00 WET  

Obrigadu barak
Natal Kmanek
:-)

E ... bem vindo a este cantinho!
Grata,
Margarida

Anónimo,  terça-feira, 23 de dezembro de 2008 às 00:22:00 WET  

Quero desejar a este cantinho acolhedor de Uma Lulik um Natal Kmanek e um Novo Ano cheio de sucessos. Adorei este artigo e apresento os meus parabens pelo vosso incansavel programa.

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